terça-feira, 23 de março de 2010

Capítulo 15

Será que posso me aventurar a sair de casa neste clima desértico? Vou precisar de máscara também? Preciso ver isso. Não quero trazer doença para casa, Fefa já não está muito bem.

Depois da leitura bíblica, voltei ao sofá para ver se vão falar alguma coisa sobre o clima. Na verdade, estão falando sobre o terrorismo nos paises do oriente médio e no Iraque. Os terroristas estão usando armas mais poderosas e deixaram de utilizar homens bomba. Agora estão utilizando uma arma que não pode ser detectada pelos radares nem pelos satélites. Uma arma fabricada com tecnologia russa de grande poder destrutivo que os terroristas compraram com muita facilidade do exército russo. O mais importante agora, para quem vende as armas, não é o objetivo do uso, mas sim, o dinheiro que entra nos seus bolsos.

A TV mostrou o que essas armas podem fazer: Elas são guiadas por controle remoto de lugares bem distantes, podendo ser lançadas com precisão milimétrica a qualquer alvo, destruindo uma cidade do tamanho de Nova Iorque. E não se saberá de onde partiu e nem quem a operou.

Mudei de canal, procurando um que falasse sobre o clima. Achei, o Canal do Clima, onde a moça estava mostrando a seca que abateu de repente sobre um país da Europa, onde havia fartura de alimentos e agora só resta poeira. Ela mostrou a previsão para hoje, igual em todo o mundo: Clima seco, quente, com mínima de 30 graus e máxima de 50. Meu Deus! quem suportaria tamanho calor?

Acredito que Deus não vai nos deixar padecer neste calor. Vamos nos cuidar bem, alimentando-nos bem e bebendo vários litros de água até isso tudo passar. Mas não posso deixar de ir trabalhar. Não sei qual seria a punição que eu levaria se faltasse hoje, já que a onda da bondade e do amor tinha ficado para trás e se perdeu no esquecimento.

Liguei para o trabalho pedindo informações, uma pessoa mal humorada atendeu, dizendo que há trabalho demais para fazer do que perder tempo me respondendo perguntas idiotas. Desliguei. Não iria faltar para não irritar o chefe. Aproximei-me da Fefa e disse:

-- Amor, não perca sua fé em Deus. Terei que ir trabalhar, aconteça o que acontecer. Tenho certeza de que Deus me fará voltar para casa são e salvo. Cuida-te, mantenha-te hidratada e bem alimentada. Procure mais informações na internet e cuidado com as notícias que podem te fazer mal.

-- Pode deixar, querido. -- Respondeu ela -- Vou passar o dia todo dentro de casa. Leve uma toalha umedecida para te refrescar neste calor.

-- Obrigado, meu amor. Por acaso, sobrou alguma máscara cirúrgica que compramos na época do surto da gripe suina?

-- Sobrou, sim. Está naquela caixa em cima do armário. Vou pegá-la.

Segui-a. Ajudei-a a descer a caixa e encontramos quinze máscaras, suficiente para o prédio todo. Fiquei com uma e ela ficou com outra, só para usar quando houver extrema necessidade, já que ela vai mesmo ficar dentro de casa.

-- Cuide-se! -- disse eu -- Tenho absoluta certeza de que Deus está cuidando de nós.

Peguei a toalha úmida e a máscara, além do crachá e dei-lhe um forte abraço, acariciando seus cabelos com a mão direita e com o braço esquerdo, puxando-a para mim.

Saí. Estava realmente muito quente. O cheiro estava horrível, vinha do córrego que mais parecia um esgoto a céu aberto, que corria nos fundos do prédio onde moro. A rua estava cheia de lixo. A pessoa que eu tinha visto ontem limpando, agora suja a rua. Olhei para ela e ela me devolveu um olhar furioso. Desviei o olhar. Não queria criar problemas e segui meu caminho.

Alguém comeu o fruto proibido de que Deus falara para não comer! Alguma serpente sussurrou nos ouvidos de alguma Eva enganando-a. Por isso Deus se retirou do meio de nós e com ele, a bondade, a misericórdia, a sabedoria e a justiça.

Vi, enquanto caminhava, um menino deitado no chão, machucado, gemendo. Parei para ver o que ele tinha. Ele estava sofrendo, alguém lhe dera uma surra e foi deixado ali para morrer. Tentei falar com ele, ele estava todo machucado que mal podia me ouvir. Liguei para a emergência e tudo o que ouvi foi que eles estavam muito ocupados atendendo ocorrências e me pediram para descrever o local onde estava o moribundo que eles viriam para removê-lo.

Removê-lo era a palavra que não podia ser dita por quem presta socorro. Resgatá-lo seria mais apropriado. Não me sentia bem deixando o menino deitado ali daquele jeito. Mas não podia fazer nada. Meu Deus, me ajude!

Onde estava o amor? Será que nem o amor existia mais no coração das pessoas? Olhando ao redor, notei que todas as pessoas estavam indiferentes umas às outras. Melhor evitar olhá-las e fazer perguntas. Sigo o caminho.

Neste calor o recomendado era pegar ônibus. Pensando bem, também deveria evitar, pois pode ser que haja pessoas com doenças contagiosas, já que o ônibus sempre partia lotado e qualquer contato seria perigoso.

Fui pela sombra, mas mesmo na sobra estava quente. Peguei a toalhinha fresca que Fefa fez para mim e coloquei-a na nuca e segui com ela. Naquela rua movimentada, que dificuldade para atravessá-la! As pessoas estão mais irritadas ainda, xingam umas às outras dos nomes mais feios que não tenho coragem de descrever.

Os motoristas não estavam mais sendo educadas com os pedestres, nem mesmo quando o sinal fechava para eles, com muito custo consegui atravessar e, olhando para trás, vi duas pessoas serem atropeladas sem que ninguém lhes prestassem socorro. Ah, Senhor, volta, por favor!

Já começo a temer pela minha vida. Não quero deixar a Fefa sozinha. Ela depende de mim. Fui caminhando, enquanto caminhava eu orava:

-- Senhor Deus, por favor, sei que estás me ouvindo. Peço-te que cuides de Fefa, se algo de grave acontecer a mim e eu não puder voltar para casa. Tudo o que eu quero é poder estar com ela esta noite, e na noite seguinte até a tua volta, ó Senhor.

Lembrei-me do hino que eu amo, e cantei-o no coração:

Mais perto
Quero estar meu Deus de ti!
Ainda que seja a dor
Que me una a ti,
Sempre hei de suplicar
Mais perto
Quero estar meu Deus de ti!

Andando triste
Aqui na solidão
Paz e descanso
A mim teus braços dão
Nas trevas vou sonhar
Mais perto
Quero estar meu Deus de ti!

Minh'alma cantará a ti Senhor!
E em Betel alçará padrão de
Amor,
Eu sempre hei de rogar
Mais perto
Quero estar meu Deus de ti!

E quando Cristo,
Enfim, me vier chamar,
Nos céus, com serafins irei
Morar
Então me alegrarei
Perto de ti, meu Rei, meu Rei,
Meu Deus de ti!

Senti paz. Fui cantando até chegar no portão principal do Fórum. Já sentia na pele o que teria que enfrentar. Mas como sempre sei, Deus está comigo!

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